A paternidade na unidade de terapia intensiva neonatal : vivências de pais de recém-nascidos internados
Autor: Daniel Gomes Severo (Currículo Lattes)
Resumo
Há situações em que um recém-nascido necessita internar em uma Unidade de Tratamento Intensivo Neonatal, tendo o pai que exercer a paternidade nesse ambiente. O estudo teve por objetivo conhecer as vivências de pais frente à internação do recém-nascido na Unidade de Terapia Intensiva Neonatal. Realizou-se em um Hospital Universitário no sul do Brasil no ano de 2020 uma pesquisa descritiva e exploratória de cunho qualitativo. Participaram 19 pais. Os dados foram coletados por meio de entrevistas semiestruturadas e submetidos à Análise de Conteúdo. Foram respeitados os princípios éticos da pesquisa conforme a resolução 510/2016. Os paisreconheceram a necessidade da internação do recém-nascido na unidade neonatal como chocante e difícil, apresentando-se vulneráveis e inseguros. O medo foi o sentimento mais frequente, relacionado ao quadro clínico instável de seu filho e a iminência de sua morte, exacerbado pela falta de conhecimento em relação à unidade de internação e às intervenções realizadas. Sentiram-se ansiosos, sem controle sobre situação vivenciada e frustrados. Angústia e incerteza também foram relatadas relacionadas à incerteza quanto ao futuro de seus filhos. Referiram como dificuldades questões relativas à perda de emprego e diminuição da renda, gerando estresse. Referiram dificuldades relacionadas à logística/horários/acomodação e à inflexibilidade de horários para visitação. A comunicação entre os pais e a equipe multidisciplinar, geralmente, transcorreu de forma tranquila, tanto em relação à transmissão de informações quanto à própria interação. Destacaram como importante a comunicação com os outros pais que vivenciavam situação semelhante. Os pais apresentaram uma autopercepção positiva em relação ao seu preparo para o cuidado do filho no setor, satisfeitos com a realização de cuidados que estavam ao seu alcance, demonstrando sentimento de dever cumprido. Viram na situação adversa uma oportunidade de aprendizado que os tornou mais fortes, superando seus medos e aprendendo a realizar o cuidado. Destacaram o importante papel da equipe multidisciplinar no estímulo a sua participação direta nos cuidados, contribuindo no aumento do vínculo com os filhos. Os profissionais demonstraram-se ativos na tentativa de incluir os pais nos cuidados por meio de orientações, educação em relação aos cuidados básicos ou com a criação de protocolos de visitação mais flexíveis, visando a inclusão paterna no setor. A maioria dos pais participou do cuidadodireto ao neonato, realizando a troca de fraldas, o banho e o contato pele a pele, sentindo-se orgulhosos e autônomos. Concluiu-se que as vivências de pais com a internação do recém-nascido na unidade neonatal são complexas, sendo necessário que sejam auxiliados a exercerem a paternidade nesse contexto. Acredita-se que a equipe de enfermagem pode fazer a diferença, possibilitando ao pai ser reconhecido como cuidador de seu filho, o empoderando. Os profissionais que atuam em unidades neonatais devem elaborar estratégias de apoio efetivas de maneira a auxiliar os pais no cuidado ao filho internado no setor, de forma harmônica e menos traumática.