Tese - Jessica Souza Fagundes

Violência contra a mulher: características das usuárias de um serviço de proteção

Autor: Jessica Souza Fagundes (Currículo Lattes)

Resumo

Este estudo aborda o tema violência contra a mulher, que ocorre em milhares de famílias, praticada de diferentes modalidades e disseminada ao redor do mundo. Trata-se de um problema complexo que perpassa as áreas da justiça, educação, saúde e impacta na vida das mulheres como um evento profundamente devastador. O objetivo geral do estudo é: analisar as características individuais e relacionais de mulheres usuárias de um serviço de proteção a vítimas de violência, que denunciaram seus agressores. Os objetivos específicos são: (1) Descrever as características individuais, relacionais e contextuais de uma amostra independente de mulheres em situação de violência que denunciaram seus agressores em um serviço especializado de proteção à mulher em situação de violência; (2) Analisar o nível de associação entre o tempo transcorrido para realização da denúncia e as características individuais e relacionais (idade, anos de estudo, tempo de convivência com o agressor e número de filhos) de mulheres que denunciaram seus agressores em um serviço especializado de proteção à mulher em situação de violência; (3) Explorar um modelo de agrupamento (cluster) adequado para explicar duas amostras de dados, dos anos de 2016, 2017, 2018 e 2020, coletados em um serviço especializado de atendimento à mulher em situação de violência. Do ponto de vista metodológico, trata-se de um estudo quantitativo, desenvolvido com uma amostra constituída de dados secundários obtidos nos registros de um serviço de atendimento a mulheres vítimas de violência, localizado em um município do extremo sul do Rio Grande do Sul, Brasil. Os dados foram submetidos a análises estatísticas uni (média, desvio padrão), bi (ANOVA a um fator) e multivariada (análise de cluster hierárquico e Regressão). Resultados: a idade das mulheres atendidas no serviço estava, em 50,9% dos casos, entre 18 e 32 anos; 50% tinham de zero a 8 anos de estudo, o que corresponde a nenhum estudo até o ensino fundamental completo; 56,8% conviviam ou conviveram com o agressor por até 8 anos; 61,1% tinham pelo menos um filho; 50,7% referiram problemas conjugais com o agressor. Em relação à média de tempo (em horas) transcorrido entre a agressão e a denúncia, o perfil típico que leva mais tempo para denunciar o agressor, na amostra estudada, foi de mulheres com idade entre 27 e 32 anos (103,42h), mais de 12 anos de estudo (83,33h), maior tempo de convivência com o agressor (110,55h) e com 1 ou 2 filhos (105,10h). O perfil que denunciou mais rapidamente os agressores foi de mulheres com menor faixa etária, entre 18 e 26 anos, (56,25h), com 9 a 11 anos de estudo (64,96h), menor tempo de convivência com o agressor (1 a 4 anos) (31,38h) e sem filhos (38,33h). Apesar de existirem diferenças reais entre as mulheres, a associação com significância estatística foi evidenciada em relação ao tempo de convivência com o agressor (p<0,05). Após a realização da análise de cluster hierárquico pelo método Ward, a amostra 1 apresentou 3 clusters. O cluster 1 é composto por 19 casos (13,66%), o cluster 2 por 39 (28,05%) e o cluster 3 por 81 (58,27%). O cluster 1 é caracterizado por mulheres com média de 53 anos de idade, 5 anos de estudo, 22 anos de convivência com o agressor e 1,32 filhos. O cluster 2 é caracterizado por mulheres com idade média de 38 anos, 9 anos de estudo, 13 anos de convivência com o agressor e 2,72 filhos. O cluster 3 é caracterizado por mulheres com idade média de 27 anos, 11 anos de estudo, 7 anos de convivência com o agressor e 1,01 filhos. A segunda amostra formou 2 clusters. Neste o cluster 1 é composto por 117 casos (71,77%) e o cluster 2 por 46 (28,22%). O cluster 1 é caracterizado por mulheres com média de 28 anos de idade, 9,8 anos de estudo, 5,35 anos de convivência com o agressor e 1,26 filhos. O cluster 2 é caracterizado por mulheres com média de 41 anos de idade, 10,4 anos de estudo, 17,83 anos de convivência com o agressor e 1,58 filhos. Conclusão: Os resultados deste estudo mostraram a diversidade em termos de características individuais e relacionais das mulheres que buscam ajuda em um serviço de referência para o atendimento das situações de violência a que estão expostas. São resultados que comprovam a violência como um evento danoso que atinge mulheres de diversas faixas etárias, com grau de escolaridade variados e que o tempo de convivência com o agressor e o número de filhos não segue um perfil único. Essa diversidade de características, mostrada nos resultados de todas as análises realizadas, permite inferir que, embora sejam mulheres que tem em comum o fato de serem vítimas de violência, suas necessidades e demandas são diferentes.

TEXTO COMPLETO DA TESE

Palavras-chave: Violência contra a mulherViolência domésticaFamíliaEnfermagem